Nos últimos anos, em especial a partir de 1992 com a realização da Eco-92 realizada no Rio de Janeiro, e com a ratificação do tratado de Quioto em 1999, o tema meio ambiente veio à baila em diversos segmentos da sociedade, ultrapassando os muros da academia, passando a povoar o cotidiano, não só dos círculos de discussões entre especialistas da área, mas também das populações como um todo, incluindo-se neste hall o Brasil.
Cada vez mais se procura disseminar a idéia de que o meio ambiente está doente, gravemente ferido, diz-se até alguns mortalmente ferido. Mais ainda, se diz que a culpa de tal enfermidade é de toda a população global. Cada um dos sete bilhões de habitantes do globo tem, de forma igual e medida, parcela de culpabilidade neste genocídio ambiental. O grande conglomerado norte americano, produtor de agrotóxicos e exterminador de pragas, assim como o agricultor subsistente do semi-árido nordestino são, da mesma forma, culpados pela degradação ambiental de acordo com o “entendimento” tecnocrata global.
O fato de que o meio ambiente nos últimos dois séculos e meio – em especial – tem sofrido constantemente fortes e duros ataques à sua integridade e preservação é público e de conhecimento geral. O desenvolvimento desenfreado, desarticu-lado, destituído de planejamento e de sustentabilidade, empreendido com o advento da Revolução Industrial e do capitalismo inaugurou uma nova fase na exploração dos recursos naturais, outrora julgados como inesgotáveis e eternos, acelerando sua degradação e ampliando seus efeitos negativos.
Esse breve registro histórico faz-se necessário para que tenhamos claro no horizonte, que antes mesmos de atentarmos para a necessidade de preservação ambiental e uso sustentável dos recursos naturais, estes já sofriam impiedosos e ferozes ataques por parte da ação do homem.
Nessa esteira, devemos analisar de forma prudente e cética a afirmação de que somos todos responsáveis pela degradação ambiental e pelo estado em que o meio ambiente se encontra. Indiscutivelmente é um dever e responsabilidade cidadão de cada um adotar práticas saudáveis e sustentáveis com vistas à preservação ambiental. Todavia é imperioso identificar os reais responsáveis pela atual “crise ambiental’.
Quando dizemos que o meio ambiente sofre com a ação do homem, devemos ressaltar que não se enquadram nessa categoria de homens os milhões de homens e mulheres explorados pela Revolução Industrial na Inglaterra, da mesma forma que não aplica-se o mesmo conceito aos milhões de trabalhadores e populações de países “subdesenvolvidos” que sonham com os padrões de vida – impossíveis de serem aplicados à toda a população mundial – alcançados por uma pequena parcela da população mundial situada nos países tido como de primeiro mundo.
Os homens que agridem o meio ambiente de forma desnuda e descarada são movidos pela ganância capitalista e a sede pelo desenvolvimento a qualquer custo, validado por governos omissos e desrregulamentados. São esses os homens responsáveis pela “grave situação” em que se encontra o meio ambiente.
A dívida que se tenta racionar aos ombros de toda a população é pertencente a uma diminuta parcela da sociedade, justamente a que mais lucra com as barbáries ecológicas, e a que menos contribui para o processo de recuperação ambiental.
A estratégia de imputar a todos a culpa pelo caos ambiental “descoberto” no apagar de luzes do século XX e florescer do século XXI por milhares de “especialistas” no assunto, quer na verdade acabar por isentar todo mundo, inclusive os reais culpados e responsáveis pela atual situação. Uma vez que somos todos culpados, na prática ninguém o é.
Essa consideração serve não para desobrigar significativa parcela mundial de sua ação racional e exploração sustentável do meio ambiente. Pelo contrário, serve como um farol sinalizando no caminho da racionalidade e sustentabilidade. Entretanto, a constatação dos reais responsáveis pela atual situação ambiental faz-se imperioso para que a fatura que se pretende dividir igualmente entre todos tenha endereçamento certo.
Que o desenvolvimento e o progresso, em todas as suas vertentes, são indeléveis a sociedade, isso é indiscutível. Porém, cabe-nos discutir a forma de desenvolvimento que pretendemos para as futuras gerações.
Paralelo a isso, devemos desmistificar o sonho de vida de milhões de pessoas, que pretendem um padrão de vida aos moldes dos países ocidentais desenvolvidos. De acordo com estudos, para igualar em um mesmo padrão – padrão de primeiro mundo ocidental – e faixa de consumo os sete bilhões de pessoas no mundo, seria necessário termos à disposição ao menos mais dez globos terrestres.
Sustentabilidade, desenvolvimento, preservação, avanços são necessidades inerentes à condição humana que devem estar pautados para além do discurso de muitas nações que apregoam a necessidade da preservação ambiental ao passo que negam-se a reduzir suas emissões de CO2 na atmosfera.
Com o avanço tecnológico alcançado pelas nações e pela humanidade nas últimas décadas, é inconcebível a idéia de que o desenvolvimento e progresso humano estejam atrelados à degradação e destruição de nosso meio ambiente e recursos naturais.
Temos a obrigação de trilhar um caminho que se constitua como uma justa posição entre o “santuarismo”, defendido por uma significativa parcela da vertente ambiental, e o desenvolvimento desenfreado e auto-justificado, apregoado por nações e grandes grupos empresariais. Um caminho que alie tecnologia e preservação, desenvolvimento e sustentabilidade.
Temos encontrado experiências que conjugam trabalho, renda, capital produtivo com sustentabilidade, preservação e recuperação ambiental. Temos de inserir o homem novamente para junto à natureza, concebendo-o como partícipe do ecossistema terrestre e não como um corpo estranho, contraditório.